Monday, June 18, 2007

Exame Nacional de Português: a febre de Domingo à noite

Domingo, 17 de Junho de 2007
véspera do exame nacional de Português


Após uma semana de renúncia e de recolhimento em salas de estudo, bibliotecas, ccb's e afins, chegou a véspera do exame.
Depois de ter ido à Missa de manhã, e após um breve almoço, mergulho no mundo de Pessoa e dos heterónimos, de Camões, de Sttau Monteiro, de Saramago e do seu convento.
Neste dia, há que descansar. Às 19h, ouvidos Os Vampiros e outras canções de intervenção ("Ah, e tal, pode ser que saia, é o aniversário da morte do Zeca..."), vou tomar um banho quente e demorado, tentando purificar a mente com os vapores. De camisa de noite e roupão, os cabelos molhados e escorridos, sinto-me Blimunda. Detentora da esfera que contém a verdade-a matéria-, o importante é que não a perca. É esta a esfera que espero que me permita voar, não na Passarola-o caso não é para tanto, basta o carro-, nem para Mafra, mas sim para a faculdade de Direito da Católica, na Calçada Palma de Cima. Imbuída de língua portuguesa, julgo que, se nascesse hoje, poderia ser chamada Lusitânia, nome tão foleiramente literário como Blimunda.
-"Descansem"- havia-nos dito a nossa professora Sofia. Às 21h, fui para a cama. Mas Pessoa não me saía da cabeça e toda aquela história da despersonalização e do fingimento fez com que adormecesse só horas mais tarde, e acordasse às 2:35, achando que já estava atrasada para a prova. Vai mais é dormir, Catarina!
Às 5:45h acordo e já não me sinto Blimunda. Pelo menos, não tive necessidade de comer pão de olhos fechados. Fi-lo, antes, de olhos bem despertos, depois de uma boa dose de café com uma não tão boa dose de leite. Não encontrava a saia da farda, mas, vá lá, estava no quarto dos pais, vá-se lá saber porquê.
Isto hoje puxava mais para os lados de Pessoa. Subitamente, sinto uma nostalgia da infância, dos "sinos da minha aldeia", ou melhor, do toque do Mira-Rio quando andava na 4ªclasse e não tinha exames nacionais.
Vou para o carro, revendo nervosamente as obras que não li, Felizmente... e o Memorial. Feliz foi mesmo a mente do meu pai, ao ter a ideia de irmos pela A1, permitindo-me ver intensamente o mar, da marginal, e Lisboa ao amanhecer. Naquele momento, tive "a Terra e o Céu". Mas tinha também um exame nacional.
Para descontrair, a minha mãe põe no rádio uma das minhas músicas preferidas de um cantor que produz um efeito Lexotan: Still River, de Chris Rea. Mas a mãe diz que não, que não é suficiente e acha que o que eu tenho que ouvir mesmo é a minha música de natal, do mesmo artista. Seja. Acalmei por 2 minutos.
Chegada ao colégio, tudo se confere: o BI (reaparecido em combate), a Luso sem rótulo, o cadbury flake da praxe e as canetas que, após aturada pesquisa por todo o distrito de Lisboa, lá me satisfizeram- pretas, especialmente fabricadas para o uso frequente em aviões. Não me deixarão mal.

E tanta coisa para, afinal, nos apresentarem um exame que não exigia assim tanta ciência. Mas o ritual faz parte, e não podíamos deixar de partilhar com os nossos visitantes este momento tão importante nas nossas vidas, neste post cujas discordâncias verbais ou discursivas não passam de pura inspiração nobel. Saramaguiana, melhor dito.

Valete, Frates

3 comments:

- said...

Sublime, Catarina Correia! Ou será Catarina Pessoa?

Anonymous said...

És completamente doida! Para o ano...enfim, serei eu! medooo...ou será pânico? eu avisei que não iria sair O memorial do Saramago e agora aqui vem a minha veia comunista e mal dizente falar...pois é DIFICIL! é dificil para a maioria dos alunos portugueses! Mas...é a vida. Uns usam os livros e a cabeça e outros não. Mas tem piada, parece que são precisamente os que não sabem usar os livros que acabam como sei lá...primeiros ministros...

Anonymous said...

este ano pensei em mandar o meu exame por fax para o ministério da educação...podia ser que mo corrigissem no sabado e enfim...ser engenheira no domingo!